segunda-feira, 1 de março de 2010

Duatlo de Arronches

Olás!

Grande fim de semana no Alentejo!

Privado da companhia dos habituais CVP, lá nos deslocamos a Arronches, desta vez, na excelente companhia de alguns Porto Runners (Telmo, Susana, Fernando Cortés, Elisabete e Rui Costa).

Da deslocação só posso dizer que foi uma ESTOPADA! Para um lado e para o outro.

Para lá foram umas 5 horas de viagem debaixo de forte chuva e duma ventania inadmissível.
O carro sempre com uma trajectória incerta, uma bicicleta em cima do tejadilho a querer voar... Foi um stress.

Interiormente sempre me convenci que iamos chegar a Arronches e o tempo se ia apresentar mais ameno. Até porque não me imaginava a fazer uma prova naquelas condições. Mas, de facto, à medida que nos deslocávamos para Sul, o temporal não dava sinais de amainar. O espanhol (Fernando) conjecturava que a prova iria ser cancelada... E todos os outros esperavam que tal acontecesse.
No entanto, devo esclarecer que o astral foi sempre alto. Fazer a prova estava praticamente fora de questão mas a estadia em Castelo de Vide estava marcada e não seria o mau tempo a impedir-nos de passar um fim de semana à maneira nem que fosse a jogar a sueca e a beber um tintol da região.
Acreditem ou não, chegamos a Arronches e o tempo ficou quase bom. Piso seco, uma brisa agradável, e até abriu o sol! Toca a vestir, check in, afinar as bikes, breve aquecimento e na linha de partida toda a gente se apresentou em fato de triatlo, alguns de nós com pele de galinha é certo, mas após a partida até calor tivemos.

Larguei forte, com a tal brisa pelas costas, e depois aconteceu-me aquela coisa habitual nas corridas, começou tudo afastar-se de mim. Há um grupo enorme à minha frente, depois há um espaço de cerca de 100m, é o espaço que separa os bons dos maus, e depois venho eu, que pelo menos, me vejo sempre como o melhor dos maus, seguido pelo pelotão dos maus que é sempre mais pequeno que o dos bons.

Foi nessa altura, cerca de dez minutos após partida, que o S. Pedro decidiu participar na prova! Sádico dum raio!
Agora que estávamos todos lançados, a tempestade caíu-nos em cima.
Lembram-se do Duatlo de Matosinhos? Não tem nada a ver!
Aqui houve rajadas de vento lateral e granizo capazes de fazer desanimar os mais teimosos. Primeiro uma chuvinha para refrescar depois uma ventania infernal. Depois chuva forte e vento fortíssimo. Só a adrenalina me manteve em prova.

Após cerca de 21 minutos cheguei ao parque de transição e nem queria acreditar. Parecia um campo de batalha. Cestos, sapatilhas, capacetes, luvas tudo espalhado no chão, se virem a última foto do slideshow do site da federação ficam a saber do que estou a falar! Eu tive a sorte de ter uma caixa de ferramentas dentro do cesto e por isso não foi difícil localizar as minhas coisas. Parti para a bicicleta e como sempre fiz uma boa prova, cerca de 39 minutos, apesar de não haver registo dos parciais.

Foi neste segmento que o tempo se aplicou mais do que eu. Metade do caminho era sensivelmente a favor do vento. A outra metade tinha vento de frente ou de lado a atirar-nos para a berma com toda a força. Eram duas voltas, na primeira fui sozinho e foi difícil, na segunda fui atrás dum tipo que merece os meus parabéns. Foi após o retorno na segunda volta que o vento e a chuva eram de tal ordem que 5 ou 6 colegas pararam na berma! Eu mantive-me teimosamente atrás do tal tipo do qual só via uma risca amarela do pneu traseiro. E pensava sempre, se este tipo aguenta, eu também aguento! Afinal ele ia à frente! Foi uma sensação verdadeiramente indescritível. O granizo causava-me dores fortíssimas nos braços desprotegidos e na cara. Tive de baixar a cabeça, fechar o olho esquerdo e ferrar-me todo para aguentar o esforço e as dores. Estáva-mos na mudança mais baixa, em esforço máximo, com a bicicleta completamenta inclinada para a esquerda para compensar o vento e não saía-mos do sítio! Estávamos quase parados e nem sequer subia! Isto deve ter durado uns dois minutos mas pareceu uma eternidade. Passado isto sem ter de de encostar, mais nada me faria parar! Até ao final do segmento do ciclismo deixei-me ir sempre atrás de alguém para recuperar a sanidade mental.

Segunda entrada no campo de batalha, vi-me à rasca para encontrar as sapatilhas de corrida, havia destroços por tudo quanto era lado. O pessoal da organização não tinha mãos a medir para tentar recolocar as bikes no varão. O meu cesto tinha andado bastante, mesmo com o lastro.

Entrei no útimo segmento com uma hora e dois minutos e não posso deixar de pensar que o S. Pedro esteve do lado dos bons, porque a essa hora já quase 50 gajos tinham cortado a meta, ou seja, apanharam as maiores rajadas já no último segmento ou não as apanharam de todo!

Aliás a dificuldade foi de tal ordem que eu sou capaz de jurar que só eu e mais meia dúzia é que passaram pelo que eu passei! Quem vinha um bocado mais atrás, por exemplo, deve ter apanhado o temporal pelas costas. Claro que esta prova esteve cheia de bravos, mas é a sensação com que fiquei!

O 3º segmento foi na mesma onda. Muito vento a obrigar a correr com inclinação, muita chuva, calçado encharcado e com as palmilhas todas dobradas debaixo dos pés, mas, como disse, não eram essas insignificâncias que me iam fazer parar. A cem metros da meta ainda acelerei feito doido e acabei lavado em lágrimas, do esforço, da emoção, sei lá...

Imperdível!

No fim disto tudo o que menos me importa é a classificação. Não foi boa nem má. A percentagem de qualidade foi de 35%, bastante fraco, mas a malta do meu nível fez mais ou menos como eu, o que quer dizer que estive como o costume!

A Anette teve um troféu 2º lugar V2 e a Elisabete um 2º lugar V1. O Rui Costa e a esposa regressaram ao Porto.

Mas o fim de semana não se ficou por aqui! Os restantes 6 foram então para Castelo de Vide.

Estadia impecável, pequeno almoço a condizer e o Domingo amanheceu com sol! Pegamos nas bikes e fomos até Marvão. Só aì tomamos consciência da dimensão do temporal da véspera! Havia um bosque entre Castelo de Vide e Marvão onde, só junto à estrada, havia dezenas de árvores literalmente arrancadas do chão com raízes e tudo!
O passeio até Marvão foi absolutamente magnífico. Paisagem deslumbrante e um tempo fresco mas com sol e sem vento. São cerca de 20Km até Marvão sendo que os últimos 5 ou 6 são sempre a subir! Alguns ainda foram até Valencia de Alcantara em Espanha e regressaram mesmo a tempo de fugir à chuva que voltou em força para o dia todo.

Seguiu-se um banho no Hotel que nos deixou fazer check-out às 14:00 e que ficou como boa referência. Ainda almoçamos em Castelo de Vide, diga-se de passagem, que extraodinariamente bem, aquelas coisas boas da região, o porco preto, o veado, o javali, a sericaia, o tintol e ... regressamos à base.
Aí foi a outra estopada. Mais 5 horas de viagem debaixo de chuva constante, vá lá, sem vento desta vez, mas com acidentes por todo o lado a fazer-nos lembrar quão perigoso é andar na estrada...

Abraço
Paulo Neves

4 comentários:

TRiCota disse...

Fantástico Paulo...e pensar eu que ontem treinei só na estrada porque chuvia um pouquinho...

Mark V disse...

Olá Paulo,

Belo relato! Sentido e revelador das dificuldades sentidas por todos.
Eu neste fim de semana nem calcei as sapatilhas...

39 minutos no ciclismo é mesmo MUITO BOM! Parabéns por toda a prova!

1 Abraço

Paulo Neves disse...

Pudera! Estivesse eu em casa e nem as pantufas tirava!
Fartámo-nos de comentar isso! Ainda bem que nem nos passou pela cabeça cancelar tudo senão tinhamos ficado em casa sem fazer nenhum!
Abraço.

João Correia disse...

Viva, Paulo!
Pois , eu de pantufas imaginei esse cenário. O lado positivo é que depois de accionar a adrenalina, não há nada que nos pare. Se começamos a pensar muito, está tudo estragado.Abraço.